terça-feira, 22 de abril de 2014

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Por Leonardo Glass Abracadabra, sim sala bim! Todos nós, mágicos ou não, em algum momento já usamos algumas dessas palavras quando nos referíamos a demonstrações de poderes mágicos: abracadabra e o sorvete desapareceu; alakazam e a caneta mudou de cor… Este post se dedica a contar a origem de cada uma dessas experessões e quem foram os primeiros a utilizá-las. Hocus pocus e o post aparecerá… AGORA! — 1. ABRACADABRA Abracadabra é, dentre os termos aqui apresentados, o mais antigo que se tem registro. Esta palavra parece ter suas raízes no aramaico em que “ibra” (אברא) significa “eu tenho criado” e “k’dibra” (כדברא) que significa “através da minha voz”. Assim, a tradução de abracadabra seria algo como: “eu crio enquanto falo”. A primeira menção dessa palavra foi no século III DC em um livro chamado “Liber Medicinalis” (também conhecido como “De Medicina Praecepta Saluberrima“) escrito por Quintus Serenus Sammonicus, uma cientista do imperador romano Caracalla que prescrevia essa fórmula para a cura da malária. Os doentes deveriam usar essa fórmula em um amuleto em forma de triângulo. Dessa forma, dizia Serenus, a doença vai diminuindo conforme o encantamento vai diminuindo. Trecho do livro “Liber Medicinalis” contendo o encantamento “Abracatabra”, com “t” ao invés de “d”. (Clique na imagem para ampliá-la) Em 1582 Eva Taylor Rimmington escreveu no livro ” The Troublesome Voyage of Capt. Edward Fenton”: “Banester disse ter curado 200 pessoas em um ano apenas segurando abracadabra em seus pescoços.” A crença no poder desta palavra durou até o século XVIII. Em 1722 Daniel Defoe entristeceu-se ao ver que a superstição em torno do abracadabra continuava a existir. Ele escreveu: “Pessoa enganadas; e isto estava claro no uso medalhas, pingentes, amuletos, exorcismos e eu não sei quais outros preparos para fortalecer o corpo contra a Peste; como se a Peste fosse um tipo de possessão de um espírito maligno. E por isso foi dito que se permanecesse com crucifixos, sinais do zodíaco, pedaços de papeis amarrado com muitos nós, com certas palavras ou figuras escritos neles, em especial a palavra abracadabra em forma de triângulo ou pirâmide.” Com o passar do tempo, a crença no poder do abracadabra diminuiu e no século XIX, o princípio da era de ouro da mágica, o abracadabra – entre outros termos mágicos – voltam à tona pelas mãos dos mágicos. O primeiro uso do abracadabra em um contexto de mágica data de 18 de outubro de 1819 na peça teatral “The Green Dragon; or, I’ve Quite Forgot ” de W.T. Moncrieff Rochester. A partir daí ela se popularizou até alcançar o sinônimo de mágica. Hoje ainda ela é lembrada, em especial pelos fãs de Harry Potter que conhecem o feitço Avada Kedavra, ou “o feitiço da morte”. — 2. ALAKAZAM Como quase todas as expressões mágicas é praticamente impossível rastrear a origem da palavra alakazam. Craig Conley em seu livro “Magic Words: A Dictionary“, diz que a palavra provavelmente teria origens árabes. Uma frase similar em árabe é Al Qasam que significa trigo. Por outro lado, alakazam também teria um equivalente hindu, que por sua vez significaria perfeito, sem falhas. Seria evocado para tirar a dor quando realizado um ato de grande resistência física. Temos a o termo Kazam, cuja a origem poderia ser a plavra grega temos a palavra “cassuma” que serve para designar uma trapaça bem feita. Por fim, segundo Fábio Brandão, a palavra ALAKAZAN seja de origem mongol e signifique CASTELO; ou quem sabe, seja de origem persa e signifique O PODEROSO… De todos os termos pesquisados para este artigo, este foi o que menos referências encontrei. Mesmo a grafia é bastante controversa, podendo variar entre alakazam, alakazan, allakhazam al-a-kazam, ali-kazam, Allah-gazam, entre muitos outros. E se levarmos em conta somente o term Kazam e suas variantes (Shazam, kazum, kazim,…) iremos mais longe ainda para lugar nenhum. Por isso, o mais provável, e que alakazam não passe de um amontoado de sílabas sem sentido e que acabou ganhando notoriedade com o passar dos anos pelo soar místico, uma vez que evoca algo de árabe em sua fonética. Não existem referências sobre o primeiro mágio a usar a palavr Alakazam. Porém, por quarenta anos o mágico dinamarquês Henri Alakazam (Henri Hermansen) viajou com sua turnê “Alakazam Magical Theatre” pela Dinamarca, Suécia e Noruega.O mágico Henri Alakazam e sua esposa Ann (Clique na imagem para ampliá-la) OBS: existe a Ezzedeen Al-Qassam que é o braço armado do Hammas, grupo xiita islâmico. Não sei se o termo Al-Qassam, usado por este grupo – e que segundo este grupo significa rompimento, divisão – tem relação ao termo Al Qasam aqui apresentado. — 3. HOCUS POCUS Essa expressão apareceu pela primeira vez como sendo o nome de um malabarista ou mágico no começo do século XVII. Segundo o livro de John Gee: “New Shreds of the Old Snare”, de 1624: “Eu sempre acreditei que ele tivesse aprendido os rudimentos de algum malabarista Hocas Pocas rapidamente.” Em 1634 foi lançado o livro “Hocus Pocus Junior, The Anatomy of Legerdemain“, onde pela primeira vez o encantamento aparece com a grafia como conhecemos hoje. Como o autor do livro permaneceu anônimo, ele foi sendo chamado pelos leitores do livro de Hocus Pocus. Capa do livro: “Hocus Pocus Jr. – Anatomie of a Legerdemain”. (Clique na imagem para ampliá-la) Thomas Ady, em 1656, escreveu “A Candle In The Dark“, oonde ele identifica um malabarista em particular que usava esse nome e essa fórmula em seu texto: “Falarei de um homem… que foi até o Rei James em seu tempo… que se autodenominava, O mais excelente Majestoso Hocus Pocus do Rei, e assim era chamado, porque ao executar cada Truque, ele costumava dizer, “Hocus pocus, tontus talontus, vade celeriter jubeo“, uma sombria composição de palavras, para cegar os olhos dos observadores, a fim de fazer seu Truque jamais fosse descoberto.“ O uso do hocus-pocus como parte de um encatamento, é datado de 1632. Segundo Thomas Randolph, em seu livro “The Jealous Lovers“: “Hocus-pocus, aqui você deve ter-me, e lá você deve ter-me!“ Outra teoria bastante difundida defendem a ideia de que hocus-pocus seria um jogo de palavras referente à celebração da eucaristia na Missa em Latim: “hoc est corpus meum” (este é o meu corpo). Apesar de ser uma teoria plausível, são poucas as evidências que suportam esta teoria; além disso, as demais palavras proferidas durante a Missa em Latim não batem com as palavras citadas por Thomas Andy, como sendo o texto prferido pelo malabarista em seus encantamentos. O texto completo da eucaristia diz: “Accipite, et manducate ex hoc omnes: hoc est enim corpus meum. Simili modo postquam coenatum est, accipiens et hunc praeclarum Calicem in sanctas ac venerabiles manus suas: item tibi gratias agens, bene dixit, deditque discipulis suis.” Traduzindo: tomai e comei: este é o meu corpo. Da mesma forma, ele tomou o cálice em suas nobres e veneráveis mãos e novamente dando graças, abençou-o e deu aos seus discípulos. Não existe, no texto latino, nenhuma similaridade com o encantamento: “Tontus talontus, vade celeriter jubeo exist.“ Autores acreditam que esta confusão nasceu de um sermão pregado por John Tillotson, arcebispo de Canterbury em 1694: “De sorte que esses corriqueiro jogo de palavras de hocus-pocus não são nada mais do uma corruptela de “hoc est corpus”, como uma ridícula imitação dos padres da Igreja de Roma em seu truque de Transubstanciação.” Dave Wilton, em seu website comenta sobre o texto de Tillonson: O principal objetivo de Tillotson aqui parece ser defender a doutrina da transubstanciação da Igreja Católica Romana ao invés de prover uma etimologia acurada. Ele certamente não foi o primeiro (e certamente não será o último) pregador a usar uma etimologia dúbia, ou mesmo incorreta, como ilustração de um sermão. Segundo a Wikipedia, esta tese não é muito aceita, pois os mágicos não ousariam ofender a Igreja (cuja autoridade moral era respeitada, na época) usando o momento mais sagrado de sua celebração religiosa numa forma vulgar como truques de mágica. Outras Teorias Por fim, existem três outras possíveis explicações para a origem do hocus pocus: a primeira defende a ideia de que hocus pocus seria uma adaptação do nome Ochus Bochus, um demônio-mágico das lendas anglo-saxônicas; a segunda, crê que a expressão venha do galês “hocea pwca“, que significa o truque do pwca. Pwca (leia-se puca) é uma criatura travessa da mitologia e do folclore irlandês e galês, é uma das várias espécies de elfos e fadas que se divertem em atrapalhar e até causar a morte de viajantes, e finalmente a terceira que diz que hocus pocus seria uma variante de um encantamento proferido em falso latin: “hax pax Deux adimax“, um mero jogo de sons/palavras. — 4. SIM SALA BIM “Após uma noite inteira passada em um festa com Dante, nós não pudemos nem chegar perto do significado de ‘Sim Sala Bim’.” – Theo Annemann, Revista “The Jinx” #67 Essas palavras mágicas se tornaram popular através do famoso mágico Dante / O Grande Jansen, e também era o nome de sua famosa turnê mágica. O mágico profissional Whit Haydn, em uma turnê em homenagem a Dante, explicou sobre o Sim Sala Bim: “Sim Sala Bim são sílabas sem sentido de uma cantiga de ninar dinamarquesa. Dante usava-as em seu show dizendo que elas significavam ‘mil obrigados’. Ele diza que quanto maior o aplauso, maior era sua reverência no palco e mais obrigados Sim Sala Bim significava. Logo após eu me mudar para Los Angeles, nos anos 70, comprei de Ken Leckvold um jogo de anéis que este, por sua vez, comprara do filho de Dante. Eu realmente gostei de me apresentar com esses anéis e, eventualmente, adicionei algumas falas de Dante como palavras mágicas em minha rotina de corda e na bolsa do ovo, como uma forma de tributo. Eu gostei do modo como essas palavras soavam um tanto Ali Baba / Alladin.”Cartaz do show Sim sala bim de Dante De fato, Sim Sala Bim parece ser uma frase extraída de uma cantiga dinamarquesa chamada “Højt på en gren en krage” (Um corvo nos ramos altos), escrita por Johan Ludvig Heiberg baseada em uma antiga melodia germânica. Højt på en gren en krage (Um corvo nos ramos altos), Simsaladim bamba saladu saladim Højt på en gren en krage sad (Um corvo nos ramos altos sentou). Så kom en hæslig jæger (então um horrível caçador chegou), Simsaladim bamba saladu saladim Så kom en hæslig jæger hen (então um horrível caçador chegou caminhando). Han skød den stakkels krage (ele atirou no pobre corvo), Simsaladim bamba saladu saladim Han skød den stakkels krage ned (ele atirou no pobre corvo que caiu). Nu er den stakkels krage (agora o pobre corvo), Simsaladim bamba saladu saladim Nu er den stakkels krage død (agora o pobre corvo está morto). Bill Palmer, no entanto, nota o fato de que o termo Sim Sala Bim não aparece em nenhum lugar da música, o que aparece é Simsaladim. Ele diz que Sim Sala Bim é encontrado em uma outra canção folclórica germânica, “die Eier von Satan” (O Ovo de Satã). Bill palmer em sua pesquisa lembra que no volume 22 da Genii Magazine de 1957 Ray Muse e alguns outros autores discorrem sobre a origem desta frase. Segundo estes, há uma verdadeira guerra entre o mágico Kalanag (nome do personagem do mágico alemão Helmut Schreiber) e Dante que foram os primeiros a usarem essa frase. Kalanag dizia que ouviu essa frase pela primeira vez de um um grupo de crianças de uma escola na Alemanha que cantavam uma canção com essa frase. Kalanag então teria percebido que Sim Sala Bim soava bastante mágico e em 1923 começou a usar essa frase em seus shows. Al Jansen, filho de Dante, por sua vez alega que ele escreveu Sim Sala Bim Polka e a registrou em 1933. Ele também atesta que seu pai havia tomado a frase Sim Sala Dim e a converteu para Sim Sala Bim. Bill Palmer conclui dizendo que dificilmente saberemos quem foi o autor da frase, bem como quem foi o primeiro ilusionista a usá-la. Mas que alguém chamado Lou Lo Well escreveu uma carta para Ray Muse dizendo que ele ouviu Kalanag usando essa frase no início da década de 20. Outras Teorias Sim salabim é uma frase dita por um alquimista turco com poderes mágicos em uma peça folclórica medieval chamada “Robyn Hode: A Mummers Play”: “Eu tenho aqui um poção vinda do oriente. Ela se chama o elixir dourado e com uma única gota eu ressuscitarei Robyn Hode com essas palavras mágicas: ‘Sim Salabim.’ Levante jovem rapaz e veja como o seu corpo já pode caminhar e cantar.“ O Dr. Herbert H. Nehrlich sugere que sim sala bim é o nome de Ali Sim-sala-bim, um nômade que era encantador e mágico. Sim sala bim. Por fim, convém salientar que em alguns países da Europa, em especial na Alemanha e nos países escandinavos, o termo sim sala bim é tão ou mais popular que o Abracadabra como palavras que proferem encantamentos. — 5. OUTRAS PALAVRAS Algumas dessas palavras como “hocus-pocus” (1634), “abracadabra”‘ (1569) e “hey presto” (1732), possuem uma longa história e ligações com crenças sobrenaturais. Outras como “presto changeo” (1905) e “shazam” (1940) são conhecidos apenas como falas de palco, sem raízes místicas ou coisa que o valha. Merece destaque uma variante de abracadabra, oriunda do hebreu ou aramaico. Esta palavra é derivada de “ab” (pai), “ben” (filho) e “ruah hakodesh” (espírito santo), ou ainda do aramaico “avra kedavra” que significa “será criado em minha palavras”. Na numerologia grega, esta palavra corresponde ao número 365, o número de dias do ano. — 6. POR FAVOR E OBRIGADO Talvez as três palavras mágicas mais poderosas do mundo. Ninguém será um grande mágico (e nem um grande ser humano) enquanto não aprender a usar abundantemente essas três palavrinhas. aguaeazeite.wordpress.com/

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